Cana e laranja ganham novas regiões de concentração da produção

A cana-de-açúcar é um exemplo de cultura cuja produção cresceu e incluiu novas áreas entre as principais

04/11/2025 às 09:30 atualizado por Redação - SBA
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Uma análise sobre a concentração espacial da produção agropecuária, disponível na plataforma de dados SITE-MLog, da Embrapa Territorial (SP), revela uma reconfiguração das principais regiões produtoras do País desde os anos 2000. Com o avanço das principais cadeias de exportação, o mapa produtivo também mudou: áreas perderam relevância, enquanto outras surgiram e ganharam espaço.

A cana-de-açúcar é um exemplo de cultura cuja produção cresceu e incluiu novas áreas entre as principais. A plataforma da Embrapa mostra, ano a ano, quais microrregiões sozinhas respondiam por 25% da produção nacional e compunham o chamado Grupo 25 (G25). Em 2000, esse grupo era composto por seis microrregiões: Araraquara, Jaboticabal, Jaú, Ribeirão Preto e São Joaquim da Barra, em São Paulo; e São Miguel dos Campos, em Alagoas. Em 2023, São Miguel dos Campos e Jaú saíram desse conjunto, embora esta última região tenha aumentado sua produção em quase 30%. Quatro novas microrregiões passaram a integrar o grupo de destaque na produção nacional: Presidente Prudente (SP), São José do Rio Preto (SP), Sudoeste de Goiás (GO) e Uberaba (MG).

Quando se amplia a análise, por meio do SITE-MLog, para analisar as microrregiões que respondiam por metade da produção (G50), os mapas mostram diferenças ainda maiores. Em 2000, além da concentração em São Paulo, havia um grupo de microrregiões no Nordeste. Em 2023, estavam todas em São Paulo ou em regiões muito próximas em outros três estados - Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Deslocamento da produção

A produção de laranjas manteve-se concentrada principalmente no estado de São Paulo, mas o G25 mudou. Em 2000, Araraquara, Jaboticabal e São José do Rio Preto eram as microrregiões que concentravam 25% da produção nacional. Houve declínio na produção dessas três microrregiões e, em 2023, Avaré, Bauru, Botucatu e São João da Boa Vista assumiram a liderança na produção. “As alterações da concentração espacial das áreas de produção estão muito vinculadas à incidência da doença do greening, o que tem causado perdas gradativas nos volumes produzidos nas regiões tradicionais e o crescimento em novas áreas”, observa o analista André Farias, da Embrapa Territorial.

 

As safras de laranja mantiveram-se estáveis no período. Apesar da queda na área dos pomares, o aumento da produtividade garantiu o volume das colheitas. “Houve um balanço, com incorporação de novas áreas, declínios de outras e aumento de produtividade. O Brasil produz aproximadamente as mesmas quantidades de laranja nos últimos 20 anos; não houve aumento substancial do volume nacional produzido, mas sim uma reorganização das áreas de produção no território”, analisa Farias.

Uma situação diferente aconteceu com a cana-de-açúcar. “Nesse caso, a cultura dobrou o volume nacional produzido entre 2000 e 2023, com o crescimento da produção em novas áreas, associado ao incremento moderado das regiões tradicionais. Para a cana, portanto, a concentração se altera não porque regiões tradicionais apresentam quedas acentuadas nos volumes produzidos, mas sim pelo fato de a cultura ter se expandido fortemente para outras áreas do território nacional, principalmente Goiás e Mato Grosso do Sul”, explica.

 

Soja, milho e algodão

A produção de soja cresceu e se expandiu pelo território nacional. A concentração diminuiu, mas regiões com forte produção em 2000 permaneceram entre as de maior destaque. Naquele ano, Parecis (MT), Alto Teles Pires (MT), Barreiras (BA) e Sudoeste de Goiás (GO) respondiam por 25% da produção nacional. Em 2023, a fatia passou a ser dividida com Canarana (MT) e Dourados (MS). 

“A soja continua se expandido como a cultura de primeira escolha para as safras de verão em diversas regiões do Brasil. Além de apresentar crescimento moderado nas regiões tradicionais, a cultura ainda tem se propagado significativamente na região do Matopiba, no norte do Mato Grosso, no estado do Pará e na metade sul do Rio Grande do Sul. Nesse caso, portanto, a diminuição da concentração é motivada pela abertura de novas frentes de expansão da cultura no território”, diz o analista. Essa disseminação se deu principalmente sobre áreas de pastagens degradadas.

A produção de milho também cresceu, mas fez o caminho contrário da soja e se concentrou em regiões já tradicionais. Em 2000, 13 microrregiões, em sete estados, somavam 25% da colheita. Em 2023, mesmo essa fatia da produção tendo aumentado de 8 para 34,9 milhões de toneladas, concentrou-se em apenas quatro microrregiões, todas no Centro-Oeste: Alto Teles Pires (MT), Sinop (MT), Sudoeste de Goiás (GO) e Dourados (MS). Destas, apenas Sinop não estava no grupo no ano 2000.

“As alterações na concentração espacial observadas no milho estão muito vinculadas ao fortalecimento da cultura como alternativa de segunda safra nos sistemas de produção com soja, principalmente no Mato Grosso. O milho segunda safra se viabilizou como alternativa econômica de muito interesse para os produtores e as empresas na região, o que tem viabilizado aumentos substanciais dos volumes produzidos nos últimos 15 anos. Ainda que o milho segunda safra seja produzido em diversas outras áreas do País, o cultivo é mais exigente em relação às condições climáticas, principalmente precipitação e temperatura, o que faz com que nem todas as áreas reúnam condições propícias para o rendimento econômico da cultura. Isso favorece a concentração, observada nos dados apresentados na plataforma”, explica Farias.

O chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, complementa que isso só é possível graças ao ajuste fino do calendário de cultivo proporcionado por cultivares de soja e de milho mais precoces, dando condições adequadas ao cultivo de duas safras subsequentes.

Mas nenhuma cultura é tão concentrada quanto o algodão. Em 2023, a região de Parecis (MT) respondia sozinha por 25% da produção nacional. Antes, em 2020, o G25 era dividido também com Primavera do Leste e Rondonópolis, MT – o que também mostrava alta concentração.

As mudanças na distribuição da produção impactam a logística e mobilizam diferentes instituições. “Regiões que enfrentam o declínio de uma atividade agropecuária estratégica para sua economia tendem a sofrer impactos socioeconômicos significativos, exigindo esforços de adaptação”, ressalta Farias. A ascensão de um segmento traz outros desafios. “Exigirá obrigatoriamente novas demandas de armazéns, de serviços de controle de pragas e doenças, de serviços financeiros, de rotas de transporte e alternativas para escoamento, de serviços técnicos para comercialização, entre outras atividades que integram o ecossistema econômico. Sem a adequada coordenação desses processos, os gargalos em diferentes etapas produtivas tendem a ficar visíveis e reduzirem substancialmente os ganhos”, acrescenta o analista.

Spadotti destaca que “os conceitos de Inteligência Territorial Estratégica (ITE) buscam justamente antever estes cenários e fornecer à iniciativa privada e aos formuladores de políticas públicas insumos necessários para viabilizar o desenvolvimento produtivo e sustentável da agropecuária brasileira”.

 

Sobre o SITE-MLog

O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária (SITE-MLog) é uma plataforma interativa desenvolvida pela Embrapa Territorial que organiza dados sobre a produção, exportação e infraestrutura logística de dez cadeias produtivas do agronegócio brasileiro: algodão, bovinos, café, cana-de-açúcar, galináceos, laranja, madeira para papel e celulose, milho, soja e suínos. Gratuito e acessível pelo Portal da Embrapa, o sistema permite gerar mapas e gráficos a partir de informações oficiais, apoiando análises rápidas e estratégias mais eficientes para o setor público e privado.

Lançado em 2018 e atualizado em 2024, o SITE-MLog traz painéis dinâmicos sobre a concentração espacial da produção agropecuária, os fluxos de exportação por região e os portos utilizados, além da localização de armazéns e unidades de processamento como frigoríficos e usinas sucroenergéticas. A ferramenta introduziu o conceito de bacias logísticas, que revela por qual porto cada microrregião brasileira exportadora embarca grãos (soja e milho) para o mercado internacional. Na nova versão, passou a estimar, de forma inédita, a demanda e oferta de nutrientes agrícolas, com base na produção regional e em indicadores científicos.

Mais do que reunir dados dispersos, o SITE-MLog transforma registros brutos em informações geoespaciais de fácil compreensão. O sistema é utilizado por gestores públicos, pesquisadores e investidores para apoiar o planejamento de obras de infraestrutura, políticas públicas e decisões estratégicas no campo.

Fonte: Embrapa