Cultivar Fênix dobra a produção de mudas de morangueiro em dois anos e avança no País
A Fênix, caracterizada por teor de açúcar e acidez equilibrados e aroma e cor intensa, entre outros atributos, tem ótima aceitação no mercado e facilidade de venda
A dependência da importação de cultivares e mudas de morangueiro, um dos gargalos da produção no Brasil, pode ser reduzida em breve. O número de viveiristas licenciados que estão multiplicando a cultivar BRS DC25, batizada de Fênix e desenvolvida pela Embrapa, dobrou em apenas dois anos. Quando do seu lançamento, em 2023, 18 viveiristas aderiram à tecnologia. No ano seguinte, esse número subiu para 22, e em 2025 já são 14 novos contratos formalizados, confirmando o interesse crescente na multiplicação da Fênix. O resultado é expressivo: a produção passou de 2,5 milhões para mais de 5 milhões de mudas no período, com expectativa de ultrapassar 10 milhões em 2026.
De acordo com o pesquisador Sandro Bonow, da Embrapa Clima Temperado, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cultivar, o aumento da produção se deve à carência de cultivares nacionais, de fácil acesso aos viveiristas, no mercado interno nas últimas décadas. “A Embrapa veio contribuir para mudar esse cenário disponibilizando uma cultivar com atributos de qualidade demandados pelo mercado brasileiro. Isso possibilitou a produção de mudas nacionais de qualidade, com preços acessíveis, disponibilizadas aos produtores no momento certo para o plantio nas condições brasileiras”, afirma.
Poucas são as instituições brasileiras envolvidas na pesquisa com o morangueiro, apesar da sua importância. A quase totalidade da produção nacional do morango é baseada em cultivares estrangeiras, o que torna o setor produtivo dependente de programas de melhoramento de outros países. Assim, cerca de 98% dos morangos consumidos no Brasil são provenientes de cultivares americanas, sendo boa parte das mudas dessas cultivares importadas principalmente do Chile, Argentina e Espanha. Seus preços oscilam entre R$ 2,30 (mudas frescas) e R$ 3,60 (mudas envasadas), com valores cotados em dólar, o que encarece a produção nacional.
O custo das mudas brasileiras da cultivar Fênix, segundo Bonow, ainda varia conforme o nível tecnológico empregado pelo viveiro e a forma de disponibilização da muda (fresca ou envasada), mas, de forma geral, o preço é mais acessível e as mudas estão disponíveis no momento certo para o plantio em cada região produtora do País. “É possível que o produtor tenha a muda na melhor época de plantio para sua região, aumentando sua janela de produção. E uma das características da cultivar Fênix, que é a precocidade, faz com que os morangos da cultivar possam ser comercializados antes do pico da safra tradicional, elevando os lucros”, explica.
Características e desempenho no campo
A cultivar Fênix se destaca por características que atendem às principais demandas dos produtores: precocidade, produtividade, boa conservação em pós-colheita, o que se traduz em durabilidade na prateleira. “Ela caiu também no gosto do consumidor. É muito saborosa, com um destaque para o calibre da fruta, teores de açúcar e acidez equilibrados, aroma e cor intensa. Tem ótima aceitação no mercado e facilidade de venda”, ressalta Bonow.
O rendimento da cultivar é alto, podendo variando de 900 gramas em sistema semi-hidropônico a 1.600 kg por planta no sistema tradicional a campo sob túnel baixo. O plantio, feito entre março e abril, permite o início de colheita entre maio e junho, uma colheita que se estende por até sete meses, ampliando a janela de produção, o que representa vantagem comercial em períodos de menor oferta no mercado.
“O fato de a cultivar ser precoce, com plantio na época ideal, permite ao produtor antecipar sua colheita e aproveitar melhores preços”, reforça o pesquisador Luís Eduardo Antunes, envolvido no projeto. “A combinação entre qualidade da fruta, precocidade de produção e resiliência da planta faz da Fênix uma aliada importante para tornar o País soberano na produção de mudas”, conclui.
Lançamento e expansão
A cultivar foi apresentada ao público em agosto de 2023, durante a Expointer, uma das principais feiras agrícolas do País. No mesmo ano, foram produzidas cerca de 20 mil matrizes, que geraram cerca de 2,5 milhões de mudas. Em 2025, com a adesão de novos viveiristas licenciados, a produção já ultrapassa 5 milhões de unidades/ano, especialmente nas Regiões Sul e Sudeste do País, com destaque para Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
Para Luís Eduardo Antunes, os sinais de crescimento são claros. Ele projeta uma produção que pode alcançar 10 milhões de mudas em 2026, dada a ampliação do interesse por parte dos produtores. E faz uma analogia: “Um campo de futebol, equivalente a um hectare, comporta cerca de 50 mil mudas. O Brasil possui aproximadamente 7 mil hectares dedicados ao cultivo de morango. Se todos fossem plantados anualmente, teríamos um potencial de 350 milhões de mudas por ano”.
“Atualmente, cerca de 70 milhões de mudas são importadas por empresas privadas a cada ano. A cultivar Fênix ocupa uma fatia ainda pequena do mercado, mas vem chamando atenção de consumidores pela qualidade das frutas. Empresários estrangeiros já sinalizaram interesse, especialmente da Europa, de representar a genética brasileira em países mediterrâneos, face às evidências de mudanças climáticas nestas regiões produtoras”, afirma Antunes, destacando o potencial de exportação da cultivar.
Histórico do programa de melhoramento
O programa de melhoramento genético do morangueiro da Embrapa teve seu auge entre 1960 e 1980. Após um período de inatividade na década de 1990, foi retomado em 2010 com foco no desenvolvimento de cultivares com adaptação ao clima brasileiro, resistência a pragas e qualidade do morango.
O trabalho incluiu, inicialmente, a formação de um banco genético, que passou pela caracterização quanto a características de interesse dos acessos. A partir de cruzamentos dirigidos, foram identificadas várias seleções potenciais de se tornarem cultivares, as quais foram avaliadas em diferentes regiões do Brasil, em parceria com o setor produtivo nacional, resultando na identificação da BRS Fênix como cultivar de alto potencial. “A Fênix é a primeira cultivar comercial gerada nessa nova fase do programa de melhoramento genético de morangueiro da Embrapa.”, conta Sandro Bonow.
A cultivar foi inicialmente recomendada para as regiões produtoras do Sul e Sudeste do Brasil, onde já havia sido avaliada por vários anos, ainda na fase de testes. No mês de setembro de 2025 foi recomendada para plantio nas condições climáticas da região produtora de Brazlândia, no Centro-Oeste. Essa recomendação ocorreu após validação junto ao setor produtivo naquela região, e aprovação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “Novas regiões para as quais a Fênix ainda não é recomendada estão sendo alvo de pesquisas visando conhecer sua adaptação para cultivo como é o caso do estado da Bahia na região da Chapada Diamantina” , conclui Bonow.
O que dizem os produtores
O casal de produtores de morango Darceli e Ilóivia Chassot (foto acima) participou do projeto do morangueiro da Embrapa com uma unidade de observação. Na propriedade de dez hectares, localizada na Linha São João Norte, Interior de Cerro Largo (RS), os produtores cultivam 12 mil mudas de morangueiro. Além da propriedade, são donos da empresa comercial SCH Morangos.
“Conhecemos a Fênix na safra 2022/23. Testamos a cultivar diretamente no sistema fora do solo em substrato que já vinha sendo usado desde 2020. Ela se desenvolveu bem, se destacou pelo pegamento e sobrevivência de 100% das mudas. O florescimento foi iniciado já em 45 dias após o plantio e as frutas, de tamanho grande e sabor diferenciado, permaneceram estáveis ao longo de toda a safra”, contam os produtores.
Com os bons resultados, Darceli e Ilóivia Chassot aumentaram o número de mudas adquiridas. Afirmam que, para a próxima safra, passarão a trabalhar somente com a cultivar. “Em nossas condições ambientais e de manejo, a Fênix é precoce, mantém o calibre de frutas (grandes), a firmeza e o sabor estável ao longo do ciclo e sem variações, mesmo com oscilações bruscas de temperatura, o que vem ocorrendo com frequência em nossa região.”
Os produtores mantiveram as plantas implantadas na safra 2024 para a safra de 2025. “Para a nossa grata surpresa, mesmo em substrato em uso desde 2020, a Fênix manteve o estande e principalmente a precocidade, o padrão e a qualidade dos morangos, sem diferenças nesses aspectos. E tudo indica que a produção será maior no fim da safra”.
O estande mencionado pelos produtores refere-se à densidade de plantio, ou seja, ao número de plantas por unidade de área em uma lavoura.
O caso de Atibaia (SP)
O cultivo de morango em Atibaia, São Paulo, é expressivo, especialmente com a cultivar Fênix. Lá, há uma parceria entre produtores e o poder público municipal. “Eles adotaram a Fênix quase como um patrimônio de Atibaia”, conta, entusiasmado, o pesquisador Luís Eduardo Antunes. O município já organizou três eventos dedicados à cultura do morangueiro.
O produtor José Roque Doratioto, do Sítio Serrano, em Atibaia, tem cinco alqueires cultivados com morango. Ele avaliou a cultivar Fênix e ressalta as características de alta produtividade, sabor intenso e tempo de durabilidade satisfatório. A sua propriedade é uma das unidades de observação do projeto.
Doratioto chama a atenção para a questão das mudas piratas. “É preciso fiscalizar as mudas, quando não se sabe direito a origem, pois já há quem está pirateando mudas da cultivar”.
Ao longo desses dois últimos anos, a Prefeitura Municipal de Atibaia está fazendo a sua parte: estabeleceu uma parceria com a Embrapa, adquirindo plantas matrizes para o Viveiro Municipal. Em 2025, produziu cerca de 400 mil mudas, as quais foram distribuídas aos produtores Atibaianos. “Ampliamos nosso Viveiro, conseguimos entregar mudas de qualidade para os produtores, despertando o interesse de mais pessoas”, diz o engenheiro agrônomo Marco Albertini.
Segundo ele, há produtores que estão conseguindo melhor rentabilidade com a comercialização de morangos, cujas embalagens identificam a cultivar Fênix. “Estamos distantes do período de distribuição das mudas pelo município, mas os produtores já estão reservando para 2026”, completa Albertini.
Fonte: Embrapa




