Entrada da nova safra de café no mercado revela o aumento nos atrasos de navios nos portos e eleva prejuízos aos exportadores

Em setembro, volume de sacas de café que não conseguiram embarque subiu para 939 mil, o que equivale a 2.848 contêineres; empresas tiveram prejuízos de R$ 9 milhões com armazenagem extra

11/11/2025 às 12:10 atualizado por Redação - SBA
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A entrada dos cafés da nova safra revelou o aumento dos atrasos dos navios e rolagens de cargas, em setembro, devido ao esgotamento da infraestrutura portuária brasileira, o que elevou os gastos extras dos exportadores. No nono mês de 2025, as empresas associadas ao Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) tiveram um substancial prejuízo de R$ 8,991 milhões com armazenagens adicionais, pré-stacking e detentions devido à impossibilidade de embarque de 939.494 sacas – 2.848 contêineres – do produto.

Esse foi o terceiro pior desfalque financeiro no histórico do levantamento realizado pela entidade, atrás apenas dos registrados em novembro (R$ 11,9 milhões) e dezembro (R$ 9,2 milhões) de 2024.

 

 

O não embarque desse volume de café, em setembro deste ano, impediu que o país recebesse US$ 348,29 milhões, ou R$ 1,869 bilhão, como receita cambial em suas transações comerciais, considerando o preço médio Free on Board (FOB) de exportação de US$ 370,72 por saca (café verde) e a média do dólar de R$ 5,3668 no mês retrasado.

“Para que o cenário não se torne ainda pior, por conta das expectativas de crescimento de diversos segmentos do agronegócio do país, é necessária a ampliação da oferta da capacidade de carga e a diversificação de modais de transporte, além de investimentos em infraestrutura e acessos nos portos, com urgência! Enquanto entraves burocráticos existirem e forem lentos, como o que vem empacando a realização do leilão do Tecon Santos 10, os exportadores brasileiros de café terão prejuízos ampliados, os cafeicultores receberão menos receita, pois somos o país que mais repasse o valor dos embarques aos produtores, acima de 90% nas últimas safras, e o Brasil deixará de receber bilhões em receita”, analisa o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Em função disso, ele conta que o Conselho e a Associação Logística Brasil emitiram, no final de outubro, comunicado público – confira aqui – cobrando agilidade no leilão do Tecon Santos 10, com ampla participação, sem restrições de interessados, para que se evite a judicialização do processo, o que retardaria ainda mais a realização do certame, e que haja possibilidade de capacidade de oferta adequada o quanto antes.

O diretor técnico do Cecafé recorda que há uma instrução da Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Portuária e Ferroviária (AudPortoFerrovia), do Tribunal de Contas da União (TCU), a respeito do leilão do Tecon Santos 10, com incisivo parecer de 203 páginas, na qual os auditores responderam questionamentos feitos pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), com o intuito de limitar a participação de interessados no leilão, classificando-os como “poucos argumentos novos”, “todos incapazes de alterar o encaminhamento sugerido neste relatório”.

O relatório da AudPortoFerrovia apontou que o TCU determine ao MPor a realização do certame em uma única etapa, sem restrição e com desinvestimento, e relatam que o Tribunal classificou como “ilegal” o leilão em duas fases e vetando a participação de operadores que já estão no Porto de Santos.

“Como a Auditoria afirmou que a decisão da ANTAQ – vetar a participação com a realização de leilão faseado – desrespeita os princípios constitucionais da ampla concorrência e proporcionalidade, ancorando-se em ‘riscos e premissas hipotéticas’, muitas delas já afastadas pelo (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) Cade, em inquéritos administrativos ou em notas da própria Agência, a AudPortoFerrovia reforçou que a decisão deve ser fundamentada em um juízo de razoável certeza e não realizada com base em explicações ‘superficiais’ e ‘genéricas’”, revela.

Segundo Heron, esse é um tema de interesse de todos os exportadores brasileiros que precisam de logística eficiente e infraestrutura adequada para destravar o Porto de Santos, independente da cultura ou do produto exportado.

“O comércio exterior brasileiro precisa de garantias do MPor no sentido de que a decisão tomada seja embasada tecnicamente e privilegie a economia nacional, como princípios basilares do interesse público. O Cecafé vem mantendo contatos regulares com diversos setores da carga conteinerizada do agro brasileiro, como exportadores de açúcar, algodão e celulose, que informam enfrentar os mesmos desafios e têm a mesma preocupação com a deliberação do colegiado da ANTAQ, que propôs o leilão faseado e restrito e que pode causar uma eventual judicialização do processo e mais atrasos na oferta da capacidade, desconsiderando os elevados prejuízos acumulados pelos embarcadores e a necessidade de se dispor de uma logística eficiente para destravar o Porto de Santos”, conta.

O diretor do Cecafé completa que, se o relatório da equipe técnica do TCU já concluiu que há ilegalidade na restrição da participação, por se basear em cenários hipotéticos ou especulativos, e que há “remédios” mais adequados e instituições públicas competentes para coibir eventuais concentrações, “o que justifica manter tal impedimento a grandes e experientes operadores, que podem atender com eficiência às cargas?”.

Junto ao questionamento acima, o diretor técnico do Cecafé agrega outros dois que solicita respostas: “por que o colegiado da ANTAQ propõe restringir a participação no leilão de empresas experientes e interessadas no certame, renunciando o grande potencial arrecadatório do leilão, quando se busca aumentar as arrecadações do país? A quem se pretende beneficiar com tais restrições?”, pergunta.

Heron conclui que os setores exportadores que trabalham com cargas conteinerizadas e a sociedade brasileira precisam saber quais são as respostas a essas indagações. “Isso porque, quem está na linha de frente e pagando os prejuízos do esgotamento da infraestrutura, defende a conclusão da unidade técnica do TCU, de que não há justificativas concorrenciais ou extraconcorrenciais para o veto à participação de armadores incumbentes e defendem a realização do leilão do Tecon Santos 10 irrestrito e em fase única, ainda em 2025 ou, no máximo, no primeiro trimestre de 2026, de forma que os setores tenham a melhoria da oferta da capacidade com a maior brevidade”, expõe.

RAIO-X DOS ATRASOS

Em setembro de 2025, 57% dos navios, ou 202 de um total de 355 embarcações, tiveram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim DTZ, elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé.

 

O Porto de Santos, que respondeu por 79,3% dos embarques de café de janeiro a setembro deste ano, registrou um índice de 75% de atraso ou alteração de escalas de navios, o que envolveu 139 do total de 185 porta-contêineres. O tempo mais longo de espera no mês retrasado foi de 35 dias no embarcadouro santista.

Também em setembro, apenas 3% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no porto santista. Outros 59% possuíram entre três e quatro dias e 38% tiveram menos de dois dias.

O complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com 16,9% de participação nos embarques entre janeiro e setembro de 2025, teve índice de atrasos de 44% no mês retrasado, com o maior intervalo sendo de 63 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual indica que 42 dos 95 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.

 

Ainda no nono mês deste ano, 37% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 35% registraram entre três e quatro dias; e 29% possuíram menos de dois dias.

 

ADESÃO AO BOLETIM DTZ

Os exportadores interessados em acessar o Boletim Detention Zero podem fazer a solicitação através do link https://app.pipefy.com/public/form/-SYfpMNK. Com o cadastro efetuado, a ElloX passará as orientações a respeito dos procedimentos para a obtenção das informações dos terminais aos contatos mencionados.

Fonte: Cecafé