MERCOSUL-União Europeia: "Acordo vai dar uma resposta de sobrevivência ao multilateralismo", afirma Lula
Em conversa com jornalistas nesta quinta-feira (18/12), presidente disse que é preciso aguardar a conclusão da Cúpula da União Europeia para analisar a possibilidade de assinatura do acordo entre os dois blocos ainda este ano
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, 18 de dezembro, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, que o Brasil aguardará a conclusão da Cúpula da União Europeia, em Bruxelas, para avaliar com mais clareza a possibilidade de fechamento do acordo comercial entre os dois blocos. Segundo o presidente, a expectativa é de que uma definição ocorra no próximo sábado (20/12), durante a LXVII Cúpula de Chefes de Estado do MERCOSUL e Estados Associados, em Foz do Iguaçu.
“Essa tentativa de acordo entre MERCOSUL e União Europeia existe há 26 anos. Eu quero fazer o acordo porque eu acho importante do ponto de vista político, do ponto de vista da defesa do multilateralismo, e até do ponto de vista de valorizar a reconstrução da OMC (Organização Mundial do Comércio). Se não vai ser possível assinar agora porque [a UE] não vai estar pronta, também não posso fazer nada. Vamos aguardar amanhã. A esperança é a última que morre”, afirmou Lula.
O presidente lembrou que as tratativas em torno do acordo evoluíram nos últimos anos e que dois líderes da UE, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e António Costa, presidente do Conselho Europeu, já haviam se comprometido a trabalhar para que o documento fosse assinado em 2025.
“Nas conversas e nas tratativas que nós tivemos com a União Europeia, tanto com a Ursula von der Leyen quanto com o António Costa, eles assumiram o compromisso de que este ano a gente fecharia o acordo União Europeia-MERCOSUL. Da parte do MERCOSUL está tudo resolvido. O MERCOSUL está 100% disposto a fazer o acordo, mesmo não ganhando tudo o que a gente queria ganhar”, disse Lula. O presidente acrescentou que o bloco europeu leva mais vantagem no acordo do que o MERCOSUL
“O acordo é mais favorável à União Europeia do que a nós. Nós dissemos para eles que esse acordo é extremamente importante do ponto de vista político, porque é um acordo que envolve 722 milhões de seres humanos, com 22 trilhões de dólares (em volume). É um acordo que vai dar uma resposta de sobrevivência, de sobrevida do multilateralismo àqueles que querem construir o unilateralismo. Por isso o acordo é importante”, disse o presidente.
FRANÇA E ITÁLIA – Ao comentar a resistência da França à assinatura do acordo, Lula disse que a posição dos franceses sempre foi muito clara. A novidade, segundo o presidente, foi o posicionamento da Itália. “Eu sempre soube que a França era contra. Eu conversei muitas vezes com o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França). Conversei muitas vezes com a oposição francesa. Cheguei a conversar até com a Brigitte (Brigitte Macron, primeira-dama da França). Pedi para ela abrir o coração do Macron para fazer o acordo”, recordou.
“A novidade para mim foi a Itália. E eu liguei hoje para a primeira-ministra Meloni (Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália). Disse para ela que a data de 20 de dezembro não foi uma data proposta por nós. O 20 de dezembro foi uma data proposta pela Ursula von der Leyen e pelo António Costa, dizendo que no dia 19 eles iriam votar em Bruxelas e que viriam aqui para que a gente assinasse o acordo. Ela ponderou que ela não é contra o acordo. Ela apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza que é capaz de convencê-los a aceitar o acordo”, destacou Lula.
“Ela então pediu que, se a gente tiver paciência de uma semana, de dez dias, de no máximo um mês, a Itália estará junto com o acordo. Eu disse para ela que vou colocar o que ela me falou na reunião do MERCOSUL e vou propor aos companheiros decidirem o que querem fazer”, continuou o presidente. A Cúpula de Chefes de Estado do MERCOSUL e Estados Associados marca o encerramento da presidência pro tempore brasileira do bloco, que foi caracterizada pelo fortalecimento das articulações políticas, econômicas e sociais entre os países da região e com parceiros externos.
VENEZUELA E TRUMP – Questionado sobre a escalada nas tensões envolvendo a Venezuela e o governo dos Estados Unidos, Lula revelou que tem mantido conversas tanto com o presidente norte-americano, Donald Trump, quanto com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e que o Brasil defende que o melhor caminho é o diálogo para evitar um conflito entre as duas nações.
“Eu tive oportunidade de conversar com o presidente Maduro por quase 40 minutos, depois eu conversei com o presidente Trump sobre a questão da Venezuela. Disse para o Trump da preocupação do Brasil com a Venezuela, porque isso aqui é uma zona de paz, isso aqui não é uma zona de guerra. Disse para ele que as coisas não se resolveriam dando tiro, que era melhor sentar em volta de uma mesa para a gente encontrar uma solução”, afirmou Lula.
“Falei para o presidente Maduro que se ele quisesse que o Brasil ajudasse em alguma coisa, ele tinha que dizer o que ele gostaria que a gente fizesse. E disse ao Trump: ‘se você achar que o Brasil pode contribuir, nós teremos todo interesse de conversar com a Venezuela, conversar com vocês, conversar com outros países, para que a gente evite um confronto armado aqui na América Latina e na América do Sul’. É importante utilizar a diplomacia, que dá muito mais resultado”, prosseguiu.
TARIFAS DOS EUA – O presidente também se pronunciou sobre as tarifas adicionais de 40% impostas pelo governo do presidente Trump para uma série de produtos brasileiros. Em 20 de novembro, os Estados Unidos anunciaram a revogação das tarifas para uma série de produtos agropecuários importados do Brasil – vários tipos de carne, café e várias frutas, entre outros –, mas elas continuam vigentes para diversos produtos.
“Desde o momento em que o presidente Trump fez a taxação, eu sempre defendi que é direito soberano de qualquer país taxar produtos do exterior que entram no seu país, se ele entender que aquele país está tendo prejuízo de desenvolvimento por conta das importações. Aqui no Brasil nós vivemos taxando produtos. Eu não sou contra a atitude de taxar. O que eu fui contra, e disse publicamente, é que os motivos da taxação não eram verdadeiros. Eu acho que o presidente Trump já reconheceu isso. E ainda faltam algumas coisas que nós vamos conseguir. Do ponto de vista comercial nós estamos discutindo e acho que vamos chegar a um bom acordo”, afirmou Lula.
Informações: Assessoria do Planalto
Foto: Ricardo Stuckert / PR



