No Nebraska, chuvas regulares reduzem necessidade de irrigação na safra 2025

Visitas técnicas mostram como o regime de chuvas diminuiu a demanda por irrigação e revelam estratégias de manejo adotadas por produtores locais

15/08/2025 às 09:16 atualizado por Redação - SBA
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Nesta quinta-feira (14.08), a série América Clima e Mercado, da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT), percorreu o estado de Nebraska, nos Estados Unidos da América (EUA), e constatou que, neste ano, os produtores reduziram significativamente o uso de pivôs de irrigação devido às chuvas regulares. A equipe também avaliou as condições de solo e manejo na região, marcada por áreas arenosas que impõem desafios semelhantes aos enfrentados em Mato Grosso, mesmo em propriedades com irrigação.

O proprietário da Fazenda JSMM, na cidade de Spalding, Brent Tenopir, explicou que o uso de pivôs de irrigação é mínimo na propriedade devido ao volume de chuvas registrado nesta safra, e destacou as estratégias adotadas para manter a fertilidade do solo. “Usamos muito pouco o pivô, o mínimo mesmo. É até difícil repor o nitrogênio sintético por conta do volume de chuvas que tivemos, mas fazemos de três a quatro aplicações em cada área. No solo, temos um bom programa de gestão e aplicação de dejetos. Usamos o esterco do nosso confinamento, uma ótima maneira de devolver nitrogênio para o solo. Fazemos análises de solo todo ano, no outono, e com isso sabemos quanto nitrogênio precisamos aplicar em cada área, e isso vai variar de safra para safra. Já usamos esse programa de aplicação há dez anos. Um dos desafios é que a areia cria uma espécie de camada mais dura, depois de anos ali, que dificulta a infiltração da água, que muitas vezes escorre sem ser absorvida pelas raízes. Estamos agora estudando maneiras de melhorar a retenção da água que usamos para irrigar estas áreas”.

O consultor da Aprosoja MT, Táimon Semler, observou que, nesta safra, a soja apresentou uniformidade de desenvolvimento mesmo em áreas de bordadura, onde normalmente há perdas significativas. Ele destacou ainda o uso do plantio direto sobre palha de milho e centeio como fator de preservação da umidade e melhoria da estrutura do solo. “Nós observamos que a soja normalmente, nas áreas de bordadura, nos outros anos, era uma soja de menor desenvolvimento, até mesmo por relatos dos produtores. Este ano nós temos uma uniformidade de desenvolvimento na lavoura, tanto que nós não conseguimos encontrar uma divisa nítida entre a área irrigada e não irrigada. Isso faz com que o produtor tenha uma expectativa de que a produtividade alcance patamares muito próximos, quando normalmente seria 33% ou 35% a menos de produtividade na área de bordadura, e este ano eles esperam uma produtividade muito semelhante em áreas como essa em relação à área irrigada,” disse Táimon.

O consultor da Aprosoja MT ainda ressaltou que os produtores do Nebraska têm adotado práticas adaptadas às condições de solo arenoso, semelhante às encontradas em algumas regiões de Mato Grosso. Entre essas estratégias, ele apontou o plantio direto sobre palha de milho e centeio como uma solução eficiente para preservar a umidade e proteger a estrutura do solo, garantindo melhor desenvolvimento das lavouras. “Aqui, os produtores do Nebraska, observando essa condição de solo que eles têm e as dificuldades dos solos arenosos, que nós também conhecemos lá no Brasil, estão adotando uma prática muito interessante, que é o plantio direto, para eles, uma tecnologia que para nós já está bem consolidada, sobre palha de milho. Logo depois do milho vem o centeio, e essa lavoura está nessa condição. Esse plantio direto com a palha do milho e do centeio tem tido um bom desenvolvimento e um bom poder tampão para a cultura da soja. Além disso, estando numa bordadura, o solo está úmido pela chuva, mas tem um alto teor de matéria orgânica, um grande diferencial. Também apresenta um teor maior de silte, o que dá uma capacidade de suporte muito maior para a cultura da soja, permitindo esse desenvolvimento e essa condição que estamos observando hoje”.

O diretor administrativo da Aprosoja MT, Diego Bertuol, fez um balanço das visitas no Nebraska, apontando as diferenças regionais e as semelhanças com os desafios enfrentados em Mato Grosso. Ele destacou que, mesmo em áreas irrigadas, existem limitações relacionadas ao tipo de solo, reforçando a importância de investir em manejo específico. “Percorremos todo o estado, passamos pelos solos mais estruturados na região sudeste, mais próximo de Iowa, onde sabemos que há alta produção de milho e de soja. E agora estamos na região centro-norte, onde vemos a variabilidade de solos, principalmente nesse talhão em que estamos, onde vemos um milho sofrendo com a estrutura do solo. É uma estrutura de solo arenoso e que não dá suporte para grandes desempenhos em produtividade do milho. Então vemos que temos pontos muito similares com o nosso estado de Mato Grosso, reforçando a importância do nosso centro de pesquisa em trazer resultados para cada talhão dos produtores lá. Enfim, mesmo em ambientes irrigados, como aqui nos Estados Unidos, vemos que também têm suas limitações, como solos com baixo teor de argila, trazendo limitações na produtividade, assim como no Brasil. E por isso, a importância de investir em trabalhos de manejo”.

A série América Clima e Mercado segue nesta sexta-feira (15.08) para o estado do Kansas, onde a equipe continuará o monitoramento de lavouras e as análises de produtividade.

Fonte: Aprosoja MT