Otimização da BR-163 em Mato Grosso do Sul impulsionará logística e produção agropecuária do Centro-Oeste
Leilão promovido pelo Ministério dos Transportes vai fortalecer economia local, ampliar a segurança e agilizar o transporte no estado, beneficiando desde o maior rebanho de avestruzes do Brasil até caminhoneiros na rota da Rota Bioceânica
Com a iniciativa inédita de otimização da BR-163 em Mato Grosso do Sul, o produtor Manuel Piveta será um dos beneficiados economicamente com as melhores condições logísticas dos 847 quilômetros da rodovia, atualmente sob concessão privada. Pioneiro em uma atividade pouco conhecida no Brasil, ele é responsável pelo maior rebanho de avestruzes que existe fora da África.
Ciente de que muitos acordos de gestão com a iniciativa privada em rodovias brasileiras são antigos e estão defasados, o Governo Federal decidiu modernizar 12 contratos que se encontram em desequilíbrio financeiro. A proposta é relicitar esses ativos para atrair novos investimentos e viabilizar obras que assegurem um melhor funcionamento do modal. Ao todo serão levantados mais de R$107,7 bilhões para otimizar as estradas do país.
Semelhante ao continente africano, Mato Grosso do Sul apresenta condições climáticas semi áridas, com temperaturas elevadas e baixa precipitação, favorecendo a criação e o desenvolvimento dos avestruzes. Piveta detalha que a qualidade da BR-163 é fundamental para o transporte do animal, em razão da sensibilidade biológica da espécie. Mesmo adaptando dois veículos para o deslocamento na via, o produtor já sofreu prejuízos com a morte de aves devido à grande quantidade de obras paradas, percursos sem manutenção e trechos com asfalto deteriorado.
A empresa distribui carne e outras mercadorias derivados da ave como roupas, óleos e acessórios para 19 estados da Federação. Piveta conta que depende fortemente da operação na BR-163, por onde os animais são transportados do criadouro até o frigorífico e também para comercialização. Com o aprimoramento da infraestrutura na rodovia, a nova meta do negócio é dobrar a produção anual, passando de 5 mil para 10 mil avestruzes.
“Com a duplicação da rodovia, com a otimização, nós teremos mais progresso e mais volume de gente que passa pela estrada, porque as pessoas têm medo de se colocar numa rodovia com tamanho movimento", alerta.
Comércio exterior
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que no Brasil existem mais de mil estabelecimentos cadastrados como rebanho de avestruz. Embora a maior demanda para os produtos da ave seja para o mercado interno, Piveta já negocia com compradores de outros países, como Japão e Estados Unidos.
“O Japão, hoje, sente dificuldade no abastecimento de peixe, que é a principal proteína deles, e está atrás da carne de avestruz. Por isso, a Rota Bioceânica é o nosso sonho”, finaliza Piveta.
Integração
A BR-163 faz parte do conjunto das rodovias nacionais que compõem a Rota Bioceânica, um projeto estratégico que visa conectar o Brasil ao Oceano Pacífico por meio de um corredor logístico que passa pelo Paraguai, Argentina e Chile. O canal direto tem mais de 3.300 km de extensão e promete reduzir significativamente o tempo de transporte das exportações brasileiras para a região Ásia-Pacífico.
Além da produção de aves, a BR-163 é um ativo estratégico para o desenvolvimento regional do Centro-Oeste, servindo como eixo de escoamento da produção agrícola e industrial em Mato Grosso do Sul em direção a centros metropolitanos e portos do Arco Norte e Sudeste.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, acredita que o ambiente empresarial da região se tornou um diferencial competitivo na atração de novas empresas para o Brasil. “Entendemos que estamos trabalhando forte nessa linha — para dar segurança nessa movimentação de cargas. Precisamos avançar para melhorar a escoação ou o recebimento e exportação utilizando a Rota Bioceânica”, ressalta.
Vida na estrada
Marcelo Bernal é um dos caminhoneiros que vive diariamente a realidade da BR-163/MS. Ele passa duas vezes por semana pela rodovia, transportando minério de ferro na ida e gesso ou grãos na volta. A principal dificuldade enfrentada pelo motorista são os percursos com pista simples, que elevam o risco de acidentes e aumentam o tempo de deslocamento.
Bernal cita especificamente o trecho entre as cidades sul-mato-grossenses de Dourados e Mundo Novo, onde a ausência de duplicação é apontada como causa recorrente de colisões. Outra queixa do profissional foi a carência de serviços que auxiliam no trabalho do motorista, como pontos de parada e descanso (PPDs) para os caminhoneiros.
“Às vezes, você está em um ponto que não tem onde parar, o cara tem que tocar a viagem mesmo já estando cansado, e aí é onde gera o acidente", analisa. “Nesse ponto de parada é necessário ter: uma área de descanso, um restaurante, um Wi-Fi para o motorista, um banheiro bom para tomar banho, uma água gelada. Isso já é o suficiente.”
O projeto de otimização da BR-163 prevê obras que incluem duplicação da via adicional, marginal, contorno, ponte, viaduto, três novos PPDs, passagens de fauna, passarelas e centenas de acessos novos.
Assessoria Especial de Comunicação - Ministério dos Transportes