Pesquisa e mercado impulsionam trigo em Mato Grosso do Sul
Evento realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste e Cooperalfa apresentou pesquisas e dados de mercado
No dia 20 de agosto de 2025, a Embrapa Agropecuária Oeste e a Cooperalfa promoveram um Dia de Campo de Trigo, reunindo produtores rurais e técnicos na sede da Embrapa, em Dourados, MS, para troca de conhecimentos sobre a cultura. O evento, realizado pela manhã, apresentou dados da cooperativa e resultados de pesquisas da Embrapa, no auditório e na vitrine tecnológica, destacando desafios e oportunidades para a expansão da produção em Mato Grosso do Sul e no Cerrado.
Durante a abertura, o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Auro Akio Otsubo, lembrou que o trigo já teve grande relevância no Estado, chegando a ocupar cerca de 400 mil hectares na década de 1980. Atualmente, a área cultivada é de aproximadamente 40 mil hectares. “O desafio agora é aumentar a produção, mas não olhando a cultura isoladamente, e sim adequando o trigo dentro do sistema de produção”, ressaltou.
O diretor da Cooperalfa, Claudiney Turmina, destacou a dependência externa do Brasil, que ainda importa cerca de 40% do trigo consumido. Para ele, o caminho é avançar rumo à autossuficiência. “É inevitável expandir a produção no Cerrado. O trigo precisa fazer parte de um sistema produtivo sustentável. Cabe a nós tornar essa cultura viável para o produtor”, afirmou.
Já o supervisor de produção da Cooperalfa, Luan Bernardi, apresentou os processos de produção da cooperativa e os projetos especiais voltados para nichos como nutrição infantil, trigo melhorador e trigo confeitaria. “Precisamos de uma cadeia produtora de qualidade, porque a cooperativa atende multinacionais”, reforçou.
O engenheiro agrônomo da Cooperalfa em Dourados, Luan Pivatto, detalhou o andamento do “Projeto Farinhas Especiais em Mato Grosso do Sul”, que prevê garantia de liquidez em contrato, assistência técnica periódica nas lavouras e recomendação de cultivares com base em pesquisas da Embrapa. “Já são quatro anos de estudos realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste, avaliando cultivares, densidade e manejo. A cada ano, temos evoluído para aumentar a produtividade e reduzir custos”, afirmou.
Ele ainda ressaltou que a cultura do trigo traz benefícios adicionais, como melhoria do solo, ciclagem de nutrientes e redução de plantas daninhas. “Tem propriedade que a produtividade da soja pós-trigo chega a aumentar até 20%”, destacou.
O analista Bruno Lemos, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), reforçou que o “trigo é um ótimo negócio” e lembrou que a Embrapa criou o programa de trigo tropical. “Estamos engajados em pesquisas e já entregamos materiais com maior tolerância à brusone, à seca e ao calor. Mas é fundamental respeitar a janela de plantio de cada região. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, ela vai do final de abril ao início de maio”, explicou.
O pesquisador Claudio Lazzarotto, da Embrapa Agropecuária Oeste, apresentou resultados da avaliação do cultivo de trigo no campo experimental, com cultivares da Embrapa e de outras empresas, nos últimos três anos — período em que a região enfrentou temperaturas mais elevadas e clima mais seco que a média. Em 2022, a produtividade variou de 34 a 69 sc/ha; em 2023, de 29 a 49 sc/ha; e em 2024, de 51 a 88 sc/ha.
“Temos genética para produzir muito bem. No Programa Alfa, temos seis cultivares com potencial de 4 a 5 mil kg/ha”, afirmou, acrescentando que “o sistema produtivo está sendo aperfeiçoado”. Hoje, a média no Estado é de cerca de 3 mil kg/ha.
Segundo Lazzarotto, dois experimentos de campo estão em andamento na Embrapa Agropecuária Oeste para avaliar diferentes formas de aplicação de nitrogênio no solo. O objetivo é responder a duas perguntas principais: qual a melhor forma de aplicar o nutriente e em que quantidade, para garantir maior produtividade. Os resultados devem estar disponíveis em aproximadamente um mês.
O pesquisador também destacou que a intenção não é substituir o milho pelo trigo. “Existe espaço para os dois. Se o produtor utilizar de 0,5% a 1% da área de milho para cultivar o trigo, ele não está sacrificando o milho e ainda aproveita os benefícios do trigo”, concluiu.