Chance de corte pelo Fed em setembro faz taxas de juros caírem

01/08/2025 às 18:14 atualizado por Arícia Martins - Estadão
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A volta à mesa da possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, desencadeada por dados bastante fracos do mercado de trabalho do país conhecidos nesta sexta-feira, derrubou as taxas dos Treasuries e forneceu alívio à curva de juros local na segunda etapa do pregão desta sexta-feira. Agora, parecem maiores as chances de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) corte a taxa básica da economia dos EUA já em setembro, o que pode ajudar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a iniciar o ciclo de flexibilização por aqui.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2026 cedeu de 14,923% no ajuste de quinta-feira para 14,91%. O DI de janeiro de 2027 passou de 14,348% no ajuste da véspera a 14,21%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,525%, vindo de 13,669% no ajuste anterior. O DI de janeiro de 2029 diminuiu de 13,566% no ajuste antecedente para 13,46%.

O DI para janeiro de 2031 caiu de 13,758% no ajuste de quinta para 13,69%. O contrato do primeiro mês de 2033 encerrou o pregão em 13,81%, de 13,864% no ajuste de quinta-feira. O saldo da semana também foi de fechamento das taxas, à exceção da parte curta da curva, que segue rondando a estabilidade, ancorada na expectativa de manutenção da Selic em 15%.

Publicado nesta sexta, o principal relatório de emprego dos EUA indicou que a economia americana criou 73 mil vagas em julho, em termos líquidos. A estimativa mediana do Projeções Broadcast era de 101 mil postos. Mais do que os números do mês passado em si, chamou a atenção dos investidores a expressiva revisão para baixo dos dados de maio e junho, que totalizaram 258 mil vagas a menos.

"O mercado está discutindo com mais afinco a chance de recessão nos Estados Unidos, o que levou os Treasuries a caírem hoje. Tivemos uma relevante ajuda externa para esse fechamento da curva de juros, assim como correção técnica da alta observada ontem", afirma Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.

Sueishi avalia, no entanto, que é difícil que os juros mais longos sustentem a tendência de descompressão vista na sessão desta sexta. "Temos um desafio fiscal grande à frente. O governo atual tende a ter política mais expansionista à medida que as eleições se aproximam. E também não podemos descorrelacionar a questão das tarifas com o fiscal".

Isso porque, mesmo com uma longa lista de setores que ficaram de fora do tarifaço, o Planalto trabalha em medidas de apoio aos segmentos afetados que podem impactar as contas públicas, nota o head de renda fixa da Manchester. "Mas mesmo com o fiscal e o tarifaço, o movimento do payroll de hoje foi muito expressivo".

À luz do novo cenário de deterioração mais evidente do emprego nos EUA, a equipe econômica da Buysidebrazil revisou sua perspectiva para a política monetária do país, e passou a esperar dois cortes de juros pelo Fed até o final de 2025 - em setembro e em dezembro. Antes, a expectativa era de um corte único na próxima decisão do BC americano.

Por aqui, também foram conhecidos dados que endossaram os sinais de perda de fôlego da atividade. A produção industrial de junho ficou praticamente estável ante maio, com aumento de apenas 0,1%, abaixo da mediana de 0,3% colhida pelo Projeções Broadcast. Já o índice dos gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), da S&P Global, recuou de 48,3 pontos em junho para 48,2 em julho.

O Índice de Confiança Empresarial (ICE) da FGV - que agrega indústria de transformação, comércio, serviços e construção - também cedeu no mês passado, para 91,3 pontos - 0,8 ponto a menos do que a leitura de junho. Este é o menor nível do indicador desde outubro de 2023. "Há indicadores mais fracos de atividade doméstica, mas não vemos oscilação na parte curta da curva pelo direcionamento mais duro que o BC tem colocado em seus comunicados", diz Sueishi, da Manchester.