Sem condutor claro para negócios, taxas futuras futuras encerram dia em baixa

15/08/2025 às 18:45 atualizado por Arícia Martins - Estadão
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Em um dia esvaziado na agenda doméstica de indicadores, liquidez reduzida e ausência de um condutor claro para os negócios, a curva de juros local seguiu, na segunda etapa do pregão desta sexta-feira, 15, a dinâmica mais comportada observada ao longo das últimas sessões. Embora rondando os ajustes anteriores, o viés é de queda em quase todas as taxas futuras, ainda ancorada no posicionamento do mercado à espera do ciclo de redução da Selic. Assim, a curva a termo se descolou do exterior, onde os rendimentos dos Treasuries subiram, também amparada na valorização do real.

Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 oscilou de 14,891% no ajuste de ontem para 14,895%. O DI de janeiro de 2027 passou de 13,94% no ajuste da véspera a 13,91%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,175%, de 13,205% no ajuste antecedente, e o DI de janeiro de 2029 recuou de 13,13% no ajuste a 13,09%.

No saldo da semana, houve alívio na maior parte dos vértices na curva futura. A taxa para janeiro de 2027 saiu de 14% e se manteve abaixo desse porcentual - o que não ocorria desde o fim de maio -, enquanto os DIs de janeiro de 2028 e de 2029 cederam 13 pontos-base e 10 pontos-base, respectivamente, considerando níveis de fechamento. O DI para janeiro de 2031 fechou 4 pontos-base.

Hoje foram conhecidos novos indicadores que apontaram na direção de fraqueza da atividade dos EUA, diz Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, mas o driver do mercado de juros brasileiro no dia foi menos pontual, e local, avalia. "Pela primeira vez, começamos a ver que atividade e inflação brasileira estão indo na direção que o Banco Central e mercado gostariam", diz, referindo-se aos dados conhecidos ao longo da semana - IPCA de julho consideravelmente abaixo do previsto, vendas no varejo de junho também inferiores ao esperado e serviços acima, mas com leitura mista entre os setores.

Segundo Olivares, o momento é interessante, porque os sinais de perda de tração da economia começam a aparecer, o mercado fica mais inclinado a apostar em corte de juros - como a própria curva indica - e, vendo que o BC se mantém 'gelado', as expectativas de inflação passam a recuar, como já evidenciado pelo boletim Focus, mas para 2025 e 2026. Assim, diz, se essa tendência se espalhar para horizontes de mais longo prazo, há um ganho de credibilidade para o BC, que pode, enfim, relaxar a política monetária.

Segundo a equipe econômica do Santander, o deslocamento para baixo dos juros futuros na semana veio na esteira do IPCA do mês passado, que subiu 0,26% - aquém do piso do Projeções Broadcast, de 0,28%.

Além de o índice cheio ter ficado abaixo do esperado, a média dos principais núcleos de inflação está rodando em cerca de 4% na margem - ou seja, nos últimos três meses, a parte subjacente do IPCA ficou dentro do intervalo da meta, diz o banco. O Santander também menciona a performance mais fraca do que o previsto das vendas do varejo em junho, ao passo que o dado serviços surpreendeu para cima no período, mas trouxe sinais de deterioração nas aberturas de cada ramo de atividade.

"O movimento (da curva) também se aproveitou do bom ambiente global em favor de corte de juros nos EUA. Com isso, agentes de mercado passaram a aumentar o orçamento total de cortes na Selic implícito na curva de juros", afirmam os economistas do banco. Entre uma semana e outra, a magnitude total de redução indicada pela curva se elevou de 2,55 pontos porcentuais para 2,75 pontos.

Apesar de o índice de preços ao produtor ter superado expectativas nos EUA esta semana, afirma a Monte Bravo Corretora em relatório, prevalece a visão de que, diante de um mercado de trabalho mais fraco e de um repasse limitado para a inflação ao consumidor, o Fed deve iniciar o ciclo de cortes em setembro.