Taxas futuras de juros longas têm alta discreta com aversão ao risco no cenário externo
Em um movimento visto por agentes mais como reflexo do aumento da aversão ao risco no ambiente global do que de questões fiscais domésticas, a curva a termo ganhou tímida inclinação no pregão desta terça-feira, com alta maior nos vértices mais distantes e declínio nos vencimentos de curto prazo.
Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,887% no ajuste anterior para 13,870%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,1% no ajuste de segunda-feira a 13,120%. Na parte mais longa da curva, que chegou a bater máxima intradia de 13,46%, a taxa projetada para janeiro de 2031 terminou a sessão em 13,435%, de 13,39% no ajuste.
Segundo operadores, a abertura das taxas longas foi contaminada principalmente pelo fortalecimento global do dólar, na esteira de alerta feito por instituições de peso sobre uma provável perda de tração das Bolsas americanas à frente, especialmente em ações de tecnologia. O comportamento dos Treasuries, cujos rendimentos recuaram, por outro lado, ajudou a conter a elevação dos DIs.
Às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve manter a Selic nos atuais 15%, o recuo de 0,4% da produção industrial entre agosto e setembro, feitos os ajustes sazonais, veio exatamente alinhado à mediana do Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado e confirmou o ritmo gradual de desaquecimento da atividade, sem surtir efeito relevante sobre a curva futura.
"Acredito que boa parte da alta dos DIs mais longos hoje reflete a piora do cenário global", afirmou o economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. "Houve um movimento de 'risk-off' no mundo, com depreciação de todas as moedas e o índice SP&500 caindo bastante", apontou.
Economista-chefe e fundadora da consultoria Buysidebrazil, Andrea Damico concorda que a dinâmica dos ativos no pregão desta terça pode ser considerada um risk-off "clássico", com fuga dos investidores para a divisa americana, perda nos índices acionários dos Estados Unidos e dos rendimentos dos títulos soberanos do país.
"Tivemos um dia de dólar mais forte, queda da Bolsa e os Treasuries sendo vistos como porto-seguro", disse. O rendimento menor dos títulos públicos dos EUA poderia fornecer alívio à curva local, pontua Damico, mas, em sua visão, a depreciação do real teve impacto preponderante sobre os DIs. "Somos um país de risco, por isso os DIs sofreram um pouco hoje (terça-feira, 04)".
Nesta terça, os CEOs da Capital Group, do Goldman Sachs e do Morgan Stanley advertiram, em reportagem da agência Bloomberg, que investidores devem se preparar para um tombo de até 15% no mercado acionário americano nos próximos um a dois anos, em um eventual ajuste que seria "saudável".
Por aqui, a redução de 0,4% da atividade industrial em setembro ante agosto, publicada hoje pelo IBGE, endossou a percepção de que a atividade perde ímpeto em velocidade em linha com a prevista pelo mercado e pelo Banco Central, avalia Damico. Entre o segundo e o terceiro trimestres, a produção da indústria ficou praticamente estável, com expansão de 0,1% na comparação dessazonalizada.
No cenário fiscal, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou nesta terça que o Projeto de Lei (PL) 5.473/2025, que aumenta a tributação de bets e fintechs, vai ser apreciado pela comissão amanhã. Também fica para esta quarta a votação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil. Calheiros manteve os principais pontos do texto e as alterações feitas por seu adversário Arthur Lira (PP-AL). "Não acho que essa questão do IR tenha feito preço hoje", frisa a economista da BuysideBrazil.



