Setor produtivo cobra reformulação urgente do crédito rural e alerta para colapso no Rio Grande do Sul
Lideranças do agro denunciam endividamento histórico, falhas no seguro rural e impactos humanitários que já atingem milhares de famílias gaúchas
A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal realizou, nesta quarta-feira (19), audiência pública para discutir a grave situação de endividamento dos produtores rurais do Rio Grande do Sul, fortemente afetados por eventos climáticos extremos e perdas acumuladas nos últimos quatro anos. A reunião, solicitada pelo senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), contou com a participação de instituições financeiras, entidades do agro e órgãos de controle.
Ao abrir os trabalhos, o senador Hamilton Mourão, integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), afirmou que a crise do Rio Grande do Sul “é inédita, profunda e fora da curva”, destacando que o país não pode tratar o tema com morosidade.
“A agricultura não pode esperar. Cada dia de atraso compromete renda, emprego, abastecimento e a sobrevivência de milhares de famílias gaúchas. O que está em jogo não é uma conta bancária, é a continuidade da vida no campo”, declarou o senador.
O parlamentar informou que a audiência tem o objetivo de identificar falhas na operacionalização do crédito rural e propor soluções imediatas.
Nesse sentido, a presidente da Comissão de Direitos Humanos, senadora Damares Alves (Republicanos-DF), explicou a participação da CDH no debate ao afirmar que a crise assumiu caráter humanitário. “Não é só economia. Há suicídio, depressão e crianças vivendo em desespero,” disse Damares.
“A dignidade humana está em risco. Há crianças, idosos, pessoas com deficiência e, sim, casos de suicídio. Isso não é apenas uma crise financeira, é uma crise de vidas em sofrimento”, afirmou a senadora.
Damares pediu também assento para a CDH nos grupos de trabalho que acompanham o tema dentro do governo federal. “O modelo atual não fecha a conta. O produtor 100% financiado não consegue pagar,” completou a senadora.
O chefe do Departamento de Regulação do Crédito Rural do Banco Central, Cláudio Filgueiras, destacou que a inadimplência média já chega a 7,9%, e entre grandes produtores passa de 10%.
“O produtor que financia 100% do custeio, mesmo com taxas equalizadas, hoje não consegue fechar a conta. O modelo, da forma como está, não se sustenta”, declarou.
Filgueiras informou que 98% de todos os recursos emergenciais das Medidas Provisórias 1.213 e 1.214 de 2024 foram absorvidos pelo Rio Grande do Sul, o que evidencia a magnitude da crise local.
“Não estamos diante de um evento isolado. Estamos diante do maior estresse financeiro da agricultura brasileira em décadas. O país precisa rever profundamente sua política de financiamento rural”, afirmou.
Seguro Rural
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos, participou representando o ministro Carlos Fávaro, que está em missão na COP30. Ele afirmou que o governo federal já direcionou mais de R$ 32 bilhões ao estado desde o início da crise — R$ 20 bilhões em ações emergenciais e R$ 12 bilhões via MP 1.314/2025.
“Estamos ao lado dos produtores. Mas é preciso reconhecer: nenhuma medida emergencial, por maior que seja, resolve uma crise estrutural. A mudança necessária é a reformulação do Programa de Seguro Rural”, afirmou.
Campos defendeu prioridade para o projeto da senadora Tereza Cristina, relatado por Jayme Campos, que redesenha o seguro rural brasileiro.
Informações: Assessoria FPA




