Em reação a noticiário político, taxas futuras sobem na sessão de sexta
Em uma dia de agenda esvaziada de indicadores econômicos, discursos recentes de diretores do Banco Central mais inclinados a cortes de juros davam suporte à continuidade da queda das taxas futuras nas últimas sessões, assim como a percepção de melhora no ambiente institucional. Mas ruídos políticos levaram os DIs a inverterem o sinal nas horas finais da sessão. O gatilho para a piora, segundo agentes de mercado, foram afirmações atribuídas a fontes de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não deve receber apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial de 2026.
Segundo interlocutores relataram à Bloomberg, Bolsonaro está cada vez menos propenso a endossar Tarcísio na corrida presidencial. O ex-presidente parece inclinado a apoiar algum integrante de sua família como candidato. A notícia passou a circular em grupos de Whatsapp do mercado financeiro por volta das 15h20, quando as taxas deixaram as quedas para trás e passaram a operar em ascensão ao longo de toda a curva. "O mercado como um todo prefere Tarcísio", disse um operador à Broadcast sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Encerrados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 oscilou de 14,897% no ajuste de ontem para 14,905%. O DI para janeiro de 2027 aumentou de 14,087% no ajuste da véspera para 14,130%. O DI de janeiro de 2028 marcou 13,400%, de 13,377% no ajuste antecedente. O DI de janeiro e 2029 subiu de 13,267% no ajuste anterior para 13,300%.
Na ponta mais longa da curva, o DI para janeiro de 2031 também avançou, de 13,479% no ajuste de quinta-feira para 13,500%. O DI de janeiro de 2033 ficou em 13,610%, de 13,604% ontem no ajuste.
Segundo Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, tudo caminhava para um pregão positivo no mercado de juros nesta sexta: a "confusão" institucional envolvendo o Supremo Tribunal (STF) e Bolsonaro, em prisão domiciliar, teve certo alívio; Nilton David e Diogo Guillen, respectivamente diretores de Política Monetária e de Política Econômica do BC, deram ontem e hoje indicações mais no sentido de que a Selic parou de subir, e o próximo movimento é de corte; e, nos Estados Unidos, se firma o cenário de que o Fed vai reduzir o juro em setembro.
"Tudo se encaixava para os juros fecharem a semana em queda. Mas toda vez que sai uma notícia em relação ao Tarcísio, a curva reage de forma sensível", afirma Tavares. "Sem ele no páreo, o mercado sente um vácuo de candidatos de centro-direita, o que eleva as incertezas. Se tivessem outras opções na mesa, poderia não haver toda essa piora".
Economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho observa que, em um dia sem novidades no noticiário econômico, a curva de juros costuma operar mais alinhada ao dólar, que também subiu hoje ante o real. E, no campo da guerra comercial com os EUA, o governo Lula segue dando indicações de que não está disposto a ceder nas negociações com Washington, o que aponta dificuldade de alguma flexibilização do tarifaço.
Na semana, apesar do revés de hoje, o saldo ainda foi de fechamento em todas as taxas ao longo da curva, à exceção do vértice de janeiro de 2026, que rondou a estabilidade. Segundo a equipe econômica do Santander, o destaque no período foi a publicação da ata do Copom, que trouxe elementos inclinados a juros mais baixos, principalmente se comparada ao comunicado da última reunião.
Outro vetor importante que ainda fez preço sobre a curva de juros local nos últimos dias foi o payroll abaixo do previsto de julho. O principal relatório do mercado de trabalho dos EUA, publicado há uma semana, sinalizou enfraquecimento mais expressivo dos fundamentos do emprego no país, e consolidou aposta de que o Fed vai diminuir os juros em setembro. "O payroll mais fraco levou os agentes de mercado a tomarem mais riscos, o que implicou em maior alocação ao longo de toda a curva prefixada brasileira", observa o Santander.