Taxas de juros futuras se acomodam e têm leve recuo após discurso duro de Galípolo

12/11/2025 às 18:50 atualizado por Arícia Martins - Estadão
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Após o significativo deslocamento para baixo na curva a termo na terça, na esteira de sinais considerados mais inclinados a cortes presentes na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e da surpresa benigna com a inflação de outubro, os juros futuros mostraram oscilação contida nesta quarta-feira, 12, entre altas e quedas, sendo que o sinal ligeiramente negativo predominou.

Fechado na sessão anterior devido ao feriado do Dia do Veterano, o mercado de títulos soberanos americanos, cujos rendimentos recuaram, forneceu algum alívio às taxas locais. Os DIs, no entanto, encontraram pouco espaço para ceder em meio à apreciação do dólar no pregão e a falas de autoridades do Banco Central que retomaram o tom conservador.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,666% no ajuste de terça para 13,640%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,846% no ajuste anterior para 12,810%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,150%, vindo de 13,175% no ajuste antecedente.

Em dois compromissos públicos nesta quarta, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, esfriou o otimismo dos investidores. Pela manhã, durante coletiva de imprensa sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) da autarquia, Galípolo reiterou que o principal objetivo é atingir a meta de inflação, e que o BC seguirá fazendo o necessário para alcançá-la.

O comandante do BC ressaltou que a persistência da desancoragem das expectativas inflacionárias exige a manutenção de uma política monetária vigilante e afirmou explicitamente que, "se alguém entendeu algum sinal em nossa comunicação sobre o futuro, entendeu errado". Também na coletiva, o diretor de Política Econômica da instituição, Diogo Guillen, observou que as estimativas sobre o impacto da isenção do imposto de renda no modelo de projeção do BC - um dos pontos da ata que mais animou os mercados ontem - ainda são preliminares. Na parte da tarde, em evento da Bradesco Asset, Galípolo praticamente repetiu o discurso feito mais cedo.

Estrategista da One Wealth Management, Pedro Cutolo afirma que o mercado ficou em compasso de espera depois das falas mais duras dos integrantes do BC terem moderado o ímpeto dos investidores. "Todo mundo interpretou a ata como mais 'dovish', mas Galípolo voltou ao discurso de antes", comentou.

Na visão de Cutolo, levando em conta o esfriamento da atividade e a perspectiva de que, dentro de poucos meses, a inflação deve estar em patamar compatível com a meta, o Copom já teria condições técnicas para iniciar o ciclo de afrouxamento da Selic em dezembro.

"A questão é como conciliar isso com o discurso duro do BC. Não vejo como isso ocorrer, eles teriam que mudar muito o discurso", comentou o estrategista, para quem as declarações desta quarta foram no sentido de tentar evitar que o mercado antecipe muito as apostas para o começo do relaxamento monetário. "Quando isso acontece, a política monetária não consegue atuar. O discurso tem essa prerrogativa".

Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o pregão foi de acomodação na curva de juros, em seguida ao declínio expressivo de todos os vencimentos na véspera, quando o mercado atingiu os menores níveis no ano. "A alta do dólar atuou no sentido de limitar o alívio nas taxas, enquanto a queda dos rendimentos dos Treasuries ajudou a conter movimentos mais expressivos", disse.

No campo dos indicadores, o IBGE publicou nesta quarta a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). O volume prestado pelo setor avançou 0,6% entre agosto e setembro, feitos os ajustes sazonais, pouco acima da mediana de estimativas coletada pelo Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de expansão de 0,4%. O dado, para economistas, indicou resiliência dos serviços, mas não muda a percepção de que a atividade deve perder fôlego no terceiro trimestre, período para o qual grande número de analistas espera crescimento quase nulo do PIB sobre o trimestre anterior.