Vindo de recordes, Ibovespa tem 2º dia de moderada correção, aos 140 mil pontos
Com a retomada dos negócios em campo negativo em Nova York após o feriado do dia anterior, o Ibovespa engatou nesta terça-feira a segunda sessão de leve correção após a renovação de recordes no intradia e fechamento na última sexta-feira. Nesta terça, oscilou entre mínima de 139.625,25 e máxima de 141.279,12 pontos - equivalente ao nível de abertura -, encerrando em baixa de 0,67%, aos 140.335,16 pontos, com giro em recuperação, a R$ 21,2 bilhões, nesta terça-feira. Na semana e no mês, o índice da B3 recua 0,77%. No ano, sobe 16,67%.
Em Nova York, na volta do feriado, os principais índices de ações sustentaram perdas entre 0,55% (Dow Jones) e 0,82% (Nasdaq) no encerramento da sessão. Os rendimentos dos Treasuries avançaram nesta terça-feira, assim como a curva do DI, por aqui. Em Londres e Nova York, o petróleo operou em forte alta, superando 1% nos futuros do Brent, a referência global, o que resultou em algum descolamento de Petrobras (ON +0,77%, PN +0,51%) em dia majoritariamente negativo para as blue chips na B3. Vale ON cedeu 0,38% e as variações para os papéis dos maiores bancos, também negativas no fechamento, foram de -0,39% (Santander Unit) a -3,18% (BB ON).
Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, além de Banco do Brasil, destaque para empresas associadas ao ciclo doméstico, como C&A (-3,70%) e Azzas (-2,73%). Também na ponta negativa apareceram Auren (-3,89%) e Marfrig (-2,64%). No lado oposto, Cosan (+3,31%), Embraer (+2,17%) e MRV (+2,11%).
"Banco do Brasil, em especial, se mostrou um papel mais pressionado nesta terça-feira em razão do início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), na medida em que existe o temor de que o governo dos Estados Unidos, caso venha a reagir mais uma vez, possa impor sanções à instituição financeira ligada à União, ao governo federal", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus. "Há uma certa tensão por conta desse julgamento, que colocou inclusive a leitura do PIB brasileiro em segundo plano na sessão."
"O BB tentou fazer uma manobra para ajudar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, oferecendo um cartão da bandeira Elo. E pode ser que, agora, o banco venha a sofrer uma retaliação americana, o que acaba afetando todo o setor bancário na sessão", acrescenta Alison Correia, analista e cofundador da Dom Investimentos, destacando também o efeito do ajuste negativo de Vale sobre o Ibovespa nesta terça-feira, em meio à percepção de que a economia chinesa se mantém em desaceleração, o que afeta a perspectiva para os preços do minério de ferro.
A despeito da pressão colocada pelos juros futuros, as ações ligadas a incorporadoras voltadas ao público de baixa renda tiveram desempenho positivo, avançando em bloco na sessão, com MRV à frente do segmento. Destaque também para Cury (+0,89%) e Direcional (+1,39%) no fechamento. Para Felipe Sant'Anna, especialista do Grupo Axia Investing, o segmento de baixa renda, na construção, virou "pão quente": tudo que o setor produz, vende mesmo com financiamento mais caro, porque a renda das famílias e os níveis de emprego estão altos.
No quadro econômico mais amplo, o destaque da agenda doméstica nesta terça-feira foi o PIB do segundo trimestre, que trouxe crescimento de 0,4% na margem, um pouco acima da expectativa de consenso para o intervalo. Dessa forma, o resultado confirmou a desaceleração da atividade econômica, conforme esperado, frente aos primeiros três meses do ano. "Apesar do crescimento do PIB ter superado levemente as expectativas, o resultado ainda sinaliza uma desaceleração significativa em relação ao desempenho do primeiro trimestre de 2025", ressalta Patrícia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina.
Ela destaca que setores mais sensíveis ao elevado nível da taxa Selic, como o consumo das famílias, perderam dinamismo do primeiro para o segundo trimestre do ano. Assim, a leitura do PIB entre abril e junho reforça, na avaliação da economista, o cenário de moderação da atividade econômica, sustentando a expectativa de que o início do ciclo de cortes da taxa de juros venha a ser iniciado, provavelmente, a partir do primeiro trimestre de 2026.
"Temos no momento mais um movimento de realização de lucros do que de aversão a risco, com o mercado também em observação do PIB - que mostra uma economia ainda aquecida, menos tendente a um corte de juros em dezembro, o que afeta a Bolsa vindo de recordes. O julgamento do Bolsonaro traz ainda uma dose de cautela aos investidores", diz Daniel Teles, sócio da Valor Investimentos.