Colheita atrasada e gargalos logísticos desafiam competitividade do milho brasileiro na temporada de exportação
Apesar do avanço acima da média nos últimos quatro anos, ritmo mais lento frente à safra passada pressiona logística, preços e espaço no mercado internacional
Yedda Monteiro, analista de inteligência e estratégia da Biond Agro, afirma que esse atraso compromete o melhor período de exportação do grão. “O milho brasileiro tem uma janela mais competitiva de julho a setembro. Se a colheita e o programa de exportação atrasam, parte desse milho só chega ao mercado quando os Estados Unidos já estão ofertando grandes volumes, reduzindo espaço para o Brasil nas vendas externas e pressionando os preços”, analisa.
Oferta recorde e pressão sobre preços internos
A produção brasileira deve ultrapassar os 130 milhões de toneladas em 2025, segundo estimativas da Conab e do USDA. Yedda avalia que o número real pode ser ainda maior, o que amplia o risco de sobreoferta.
“É improvável que a demanda externa absorva todo esse volume, já que nossa janela de competitividade é relativamente curta”, destaca a analista.
Embora a China e outros mercados tenham impulsionado as exportações brasileiras nos últimos anos, o cenário atual é mais restrito. No mercado doméstico, o consumo é robusto, puxado pela indústria de ração animal e, cada vez mais, pelo etanol de milho, que já consome cerca de 21 milhões de toneladas.
“Ainda assim, diante de uma oferta tão volumosa, é provável que haja pressão sobre os preços ao longo do ano. Essa pressão só tende a diminuir em períodos de menor disponibilidade, como a partir de dezembro e janeiro”, explica.
Concorrência acirrada
Os principais destinos do milho brasileiro seguem sendo China, União Europeia, Japão, Coréia do Sul, Irã, Vietnã e Egito. No entanto, a concorrência externa está mais forte.
Contudo. Yedda lembra ainda que fatores geopolíticos, como conflitos no Oriente Médio e disputas tarifárias podem afetar a demanda, exigindo do Brasil a necessidade de buscar novos horizontes. “O Brasil precisa buscar novos destinos e firmar alianças mais concretas com parceiros já existentes, porque o mercado internacional de milho está bem abastecido e mais disputado”, completa.
Câmbio e clima serão fatores determinantes
A volatilidade cambial será determinante para o escoamento da safra. “Um real mais desvalorizado torna o milho brasileiro mais competitivo frente a EUA e Argentina. Mas, quando o real se valoriza, perdemos competitividade justamente no momento de maior disputa por mercado”, explica Yedda.
As condições climáticas também influenciam. Safras cheias nos EUA e na Argentina ampliam a oferta global e reduzem espaço para o milho brasileiro. “O milho americano entra no mercado no mesmo período em que intensificamos nossos embarques. Já a Argentina, após anos de seca, volta a disputar espaço, especialmente em países vizinhos e no Norte da África”, pontua.
Gargalos logísticos e desafios internos
Além da concorrência internacional, a logística interna segue sendo um entrave. O Brasil conta com capacidade estática de armazenagem equivalente a 70% da produção de soja e milho, segundo a Conab, enquanto nos EUA esse índice é de 130%. Apenas 17% do armazenamento está dentro das fazendas, contra 65% nos EUA.
“Isso força o produtor a vender logo após a colheita, quando há maior concentração de oferta e pressão sobre preços e espaço nos portos”, ressalta Yedda.
Somado a isso, a dependência da malha rodoviária, responsável por cerca de 60% do escoamento de grãos, aumenta os custos e limita a fluidez dos embarques. “É fundamental o produtor se informar em fontes confiáveis e adotar estratégias de gestão de risco, como fracionar vendas, usar ferramentas de proteção de preços e travar custos antes mesmo do plantio. Isso garante mais segurança na comercialização”, finaliza Yedda Monteiro.
Informações: Assessoria