Após pacote antitarifaço, taxas curtas reduzem quedas e demais vértices sobem

13/08/2025 às 18:21 atualizado por Arícia Martins - Estadão
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Sem maiores surpresas em relação às medidas governamentais para mitigar o impacto do tarifaço dos Estados Unidos sobre o Brasil, a curva a termo reagiu a falas mais duras do Executivo em relação à ofensiva comercial na segunda etapa do pregão desta quarta. Os vencimentos curtos reduziram o ritmo de queda observado desde o início da sessão, enquanto a parte intermediária e longa operou em alta.

Durante a cerimônia de assinatura da Medida Provisória "Brasil Soberano", o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o País está sendo "sancionado por ser mais democrático do que o seu agressor". Já o presidente Lula disse que a "aposta" que os EUA estão fazendo pode não dar certo, e que o Brasil busca alternativas "para que os EUA aprendam que democracia e respeito comercial e multilateralismo vale para nós e deve valer para eles".

As declarações foram feitas por volta das 13h30, quando os vértices dos DIs a partir de 2028 abriram mais. Na parte mais curta da curva, prevaleceu a divulgação de nova leva de dados de atividade mais fracos, que intensificaram discussões sobre um corte da Selic ainda este ano. "O mercado, praticamente, está precificando 50% de chance de o ciclo começar em dezembro", diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 oscilou de 14,892% no ajuste anterior para 14,890%. O DI de janeiro de 2027 passou de 13,961% no ajuste de ontem para 13,92%. O DI de janeiro de 2028 ficou praticamente estável, ao passar de 13,194% no ajuste a 13,195%. O DI de janeiro de 2029 marcou 13,125%, de 13,093% no ajuste da véspera.

Na ponta mais longa da curva, o DI de janeiro de 2031 aumentou de 13,339% no ajuste para 13,39%. O DI de janeiro de 2033 avançou de 13,479% no ajuste anterior para 13,53%.

Para Luan Aral, trader da Genial Investimentos, a pressão nos DIs intermediários e longos foi tímida na sessão desta quarta, 13, mas ficou nítido que esses vértices subiram um pouco mais pelas falas de Haddad e Lula. "Ficou claro que o governo está indo para o 'tudo ou nada', em um movimento político de ataque contra Trump", disse, lembrando que pesquisas eleitorais da Genial em parceria com o Instituto Quaest indicaram que a popularidade do governo aumentou após o tarifaço.

Aral pondera, no entanto, que no acumulado de agosto, o DI de janeiro de 2029, por exemplo, mostra redução de 0,3 ponto porcentual. "Um pequeno movimento de correção na sessão de hoje é válido", diz.

Economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro aponta que o Programa Brasil Soberano, apoiado em seis medidas, veio conforme o previsto. A principal delas é uma linha de crédito de R$ 30 bilhões com juros subsidiados. Também compõem o pacote a compra, pelo governo, de itens perecíveis que seriam exportados ao mercado americano, a concessão de seguros à exportação, adiamento da cobrança de impostos e extensão do benefício fiscal Reintegra para todas as companhias que vendem aos EUA.

Especialista em política fiscal do Santander, o economista Ítalo Franca afirma que o plano governamental não tem efeito relevante sobre as contas públicas, o que ainda possibilita o cumprimento da meta fiscal de 2025.

Do lado da atividade, foi divulgada hoje pelo IBGE a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de junho. O volume de vendas do varejo restrito, que não considera automóveis e material de construção, caiu 0,1% na passagem mensal, abaixo da mediana de instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast, de 0,8%. Já o varejo ampliado, que inclui esses dois setores, teve retração maior ante maio, de 2,5%. A expectativa mediana para o dado era de alta de 0,1%.

"O mercado começa a debater mais abertamente sobre corte de juros", aponta Aral, da Genial. Durante evento nesta tarde, o chairman e sócio-fundador do BTG Pactual, André Esteves, avaliou que os juros altos estão produzindo efeitos na convergência da inflação, o que pode dar espaço para o Banco Central (BC) começar a cortar a Selic a partir de dezembro ou janeiro.