Dólar fura o piso de R$ 5,30 e fecha no menor nível desde junho de 2024

11/11/2025 às 18:50 atualizado por Antonio Perez - Estadão
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O dólar emendou nesta terça-feira, 11, o quinto pregão consecutivo de baixa, rompeu o piso de R$ 5,30 pela primeira vez desde setembro e encerrou o dia no menor valor de fechamento em quase um ano e meio. Além da onda global de desvalorização da moeda americana, na esteira de dados fracos do mercado de trabalho nos EUA e da expectativa crescente de fim do shutdown, o real se beneficiou de possível entrada de recursos externos para bolsa e renda fixa domésticas.

Apesar do tom menos duro da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação ao adotado no comunicado da semana, a perspectiva é de manutenção da taxa Selic em 15% até pelo menos janeiro de 2026 - o que garante um ambiente favorável a operações de carry trade e desencoraja apostas mais contundentes contra o real, mesmo diante da perspectiva de aumento de remessas ao exterior em dezembro.

Com mínima a R$ 5,2642, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça1, em queda de 0,64%, a R$ 5,2732 - menor valor de fechamento desde 6 de junho de 2024 (R$ 5,2508). A moeda acumula desvalorização de 2,33% nos últimos cinco pregões e já recua 1,99% em novembro, após alta de 1,08% em outubro. Nos ano, as perdas são de 14,68%.

Para o superintendente da Tesouraria do BS2, Ricardo Chiumento, a atratividade do carry trade, diante da perspectiva de ampliação do diferencial de juros interno e externo, continua a dar o tom dos negócios no mercado de câmbio local, contribuindo de forma decisiva para a apreciação do real.

"Com a expectativa de encerramento do shutdown nos EUA, o mercado já começa a precificar que os indicadores econômicos represados vão vir mais fracos, levando o Federal Reserve a cortar os juros em dezembro", afirma Chiumento. "Por aqui, o BC não deve cortar os juros pelo menos até janeiro. Não considerei o tom da ata dovish como parte do mercado. O Copom não deu qualquer sinal de afrouxamento monetário".

Na ata do encontro da semana passada, o Copom mostrou confiança na convergência da inflação à meta com a manutenção da taxa Selic no nível atual por "período bastante prolongado", mesmo com a incorporação dos impactos da reforma do Imposto de Renda nas expectativas inflacionárias. O tom da ata foi visto como um primeiro passo do comitê em um ajuste de comunicação para abrir espaço para uma sinalização de possível redução da taxa Selic no primeiro trimestre de 2026.

Pela manhã, o IBGE informou que, após avanço de 0,48% em setembro, o IPCA subiu 0,09% em novembro, abaixo da mediana de Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 0,14%. Foi o IPCA mais baixo para os meses de outubro desde 1998. Analistas ouvidos pela Broadcast avaliaram a composição do índice como benigna, ratificando a continuidade do processo de desinflação. Casas como UBS BB, C6 Bank e PicPay reduziram a projeção para o IPCA fechado neste ano.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes - recuava cerca de 0,20% no fim da tarde, ao redor dos 99,400 pontos, após mínima aos 99,287 pontos. O Dollar Index recua 0,30 em novembro e acumula perdas de 8,30% no ano.

Segundo dados da ADP divulgados nesta terça, o setor privado americano perdeu, em média, 11.250 vagas nas quatro semanas encerradas em 25 de outubro. A informação faz parte da nova série semanal da ADP que busca capturar as variações no emprego ao longo do mês. A leitura mensal divulgada na semana passada havia revelado criação líquida de 42 mil vagas no setor privado em outubro, acima do esperado por analistas (42 mil).

O diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, vê continuidade do movimento de apreciação do real nos próximos meses. Além do ambiente global favorável a divisas emergentes, o Brasil tem taxas de juros reais elevadas, bons termos de troca e risco soberano relativamente estável.

"Em nossa visão, o dólar pode atingir R$ 5,00. O real pode até apreciar mais, porém, neste momento, vejo um intervalo tático de R$ 5,10 e R$ 5,20 no curto prazo", afirma Oliveira.