Entre alta do dólar e queda dos Treasuries, taxas de juros futuras rondam estabilidade

21/11/2025 às 18:36 atualizado por Arícia Martins - Estadão
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Em um pregão de liquidez reduzida após a volta do feriado da Consciência Negra e marcado por firme elevação do dólar, os juros futuros negociados na B3 oscilaram entre leves altas e quedas, mas terminaram o dia praticamente no zero a zero. As taxas curtas e intermediárias chegaram a subir um pouco mais, alinhadas ao fôlego da moeda americana no meio da tarde, mas a ascensão foi perdendo força rumo à etapa final.

A dinâmica benigna dos Treasuries, que operaram em recuo no dia com a volta à mesa das apostas de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro, acabou predominando sobre as taxas futuras.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 13,631% no ajuste de quarta-feira para 13,615%. O DI para janeiro de 2029 passou de 12,882% no ajuste anterior para 12,865%. DI para janeiro de 2031 marcou 13,185%, vindo de 13,229% no ajuste.

"Houve uma falta de liquidez no dia e o mercado ficou muito apertado. Uma pequena mudança nas perspectivas lá fora gerou um comportamento diferente da curva no dia", diz Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, destacando que, na primeira etapa do pregão, as taxas parecem ter seguido mais a redução dos juros dos Treasuries, após a mudança da visão do mercado sobre os próximos passos do Fed.

Em evento mais cedo, o presidente da distrital de Nova York, John Williams, disse que o progresso rumo à meta de inflação de 2% "estagnou temporariamente" e sinalizou que ainda vê "espaço para um ajuste adicional no curto prazo" nos Fed Funds.

"Depois desse pronunciamento, a probabilidade de corte passou de 30% para 70%, o que foi um vetor para todos os preços aqui". Também como possível influência de baixa sobre as taxas, Marianna cita a nova lista de exceções à tarifa adicional de 40% dos Estados Unidos a pouco mais de 200 produtos brasileiros, publicada ontem.

Segundo cálculos da Broadcast sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, 55,4% da pauta de exportação nacional está livre da sobretaxa - o equivalente a US$ 22,381 bilhões dos US$ 40,369 bilhões embarcados para os EUA em 2024.

Pelas estimativas do Goldman Sachs, considerando também as isenções tarifárias recíprocas de novembro - de 10% no caso do Brasil - a alíquota dos EUA sobre o País diminuiu de 30,2% para 29,2%. Após o corte adicional de ontem, houve redução de mais 3,7 pontos, para 25,5%.

"O Brasil se saiu bem da situação do tarifaço", diz Marianna, da Mirae. "O impacto sobre a balança comercial foi menor do que se imaginava, e a isenção das tarifas tem impacto positivo no câmbio no médio prazo, no comportamento da inflação e também na atividade econômica", disse.

Outra frente monitorada pelos agentes na sessão, ainda que sem efeitos claros sobre os DIs, foi a tensão entre Executivo e Senado, depois de o presidente Lula ter indicado o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Como represália, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), retomou uma "pauta-bomba" que pode custar até R$ 21 bilhões aos cofres públicos.

O projeto para contratação e aposentadoria de agentes de saúde deve ser apreciado na próxima terça-feira. "Esse movimento reforça o nível de fricção institucional e a fragilidade da coordenação do governo no Congresso", avalia a BuysideBrazil em relatório. O mercado ainda aguarda, embora sem grandes expectativas, o relatório bimestral de receitas e despesas do governo federal, agendado para esta sexta e não divulgado até o fechamento do mercado.

No cômputo semanal, a inclinação da curva teve pouca alteração. Considerando níveis de fechamento da última sexta-feira, a taxa projetada para janeiro de 2027 caiu 1 ponto-base, e o DI de janeiro de 2029 e do primeiro mês de 2031 subiram 3 pontos-base e 1 ponto-base, respectivamente.