Ibovespa recua com ajuste pós-feriado e peso de Petrobras
O Ibovespa encerrou a sexta-feira, 21, volta do feriado da Consciência Negra, em queda, em um pregão de correção influenciado pela aversão ao risco global já vista na véspera, quando Wall Street sofreu fortes perdas em meio às dúvidas sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos, após o payroll de setembro - o primeiro desde o fim do shutdown - , e ao temor de uma possível bolha em ativos de inteligência artificial. No front doméstico, incertezas em relação ao risco fiscal também pesaram sobre a bolsa.
Ao longo do dia, o índice oscilou em torno dos 154 mil pontos, com a mínima do dia a 153.570,94 (queda de 1,16%), e ensaiou alguma recomposição no início da tarde, acompanhando a melhora das bolsas de Nova York, mas sem força para retomar o rali recente que levou o mercado brasileiro a máximas históricas. O Ibovespa fechou aos 154.770,10 pontos, queda de 0,39%. Na semana, acumulou variação negativa de 1,88%.
Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, houve um "catch-up" em relação ao tombo de ontem em Wall Street, e o peso de Petrobras, que acompanha a queda do petróleo no exterior. Ele lembra que, mesmo após a realização, o ano ainda é de forte valorização para os ativos de risco. "A bolsa americana subiu cerca de 15% no ano, o Ibovespa mais de 30%. Investidores que procuravam motivo para realizar encontraram na combinação de juros ainda elevados mais discussão de bolha de IA a saída perfeita para ajustar posição na reta final do ano", afirmou.
Spiess nota, porém, que o ambiente global ficou menos carregado após fala do presidente do Fed de Nova York, John Williams, que reabriu as apostas em pelo menos mais um corte de juros em dezembro, depois de uma combinação incômoda de ata considerada dura do Federal Reserve e dados mistos do payroll, prejudicados pelo shutdown nos Estados Unidos.
Na quinta, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que foram criadas 119 mil vagas em setembro, bem acima da mediana de Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 51 mil. Ao mesmo tempo, houve revisão para baixo na criação de postos de trabalho em agosto (de 22 mil para 4 mil) e de julho (de 79 mil para 72 mil). Além disso, a taxa de desemprego subiu de 4,3% para 4%. A expectativa era de manutenção a 4,3%. Os dados constam no relatório conhecido como payroll.
Pedro Cutolo, estrategista da ONE Wealth Management, avalia que o mercado brasileiro tentou, ao longo do pregão, equilibrar a repercussão positiva da ampliação da lista de produtos brasileiros isentos das tarifas americanas com o mau humor externo e o receio em torno dos múltiplos das empresas ligadas à IA. Para ele, os dados de emprego nos EUA vieram "um pouco mais para o lado hawkish do que dovish", mantendo o mercado sensível a qualquer sinal do Fed. Ainda assim, Cutolo vê espaço para oportunidades na Bolsa brasileira.
"Estamos digerindo o noticiário como um todo. Não é apenas um dia de ajustes técnicos. Ajustes sempre existem, o mercado sempre se acomoda às novidades. Mas ainda considero um momento bom, de oportunidade para o Brasil", afirma, lembrando que, apesar de a Bolsa parecer cara em alguns recortes históricos, segue barata em relação ao mercado americano.



