Mercado vê IPCA quase dentro da meta (4,51%) após estouro em 2024
O mercado consolidou a aposta de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2025 muito próximo do teto da meta inflacionária, de 4,5%, após estouro da meta em 2024 (4,83%). Economistas consultados pelo Projeções Broadcast consideram que a moderação dos preços de alimentos, o movimento de apreciação cambial, e a redução do preço da gasolina pela Petrobras na última semana ajudaram a aliviar as estimativas para o ano.
A mediana da pesquisa Projeções Broadcast indica alta de 4,51% para o IPCA do ano, resultado menor do que o apontado pelo último boletim Focus, que teve a estimativa intermediária para inflação de 2025 reduzida de 4,70% para 4,56%. Economistas não descartam mais uma redução da mediana do Focus na próxima divulgação. Até setembro, o IPCA acumula alta de 3,64% no ano e de 5,17% em 12 meses.
O cenário atual para a inflação é mais benigno do que o mercado desenhava no início do ano, sobretudo pelo movimento de overshooting da taxa de câmbio no final de 2024. A título de comparação, a mediana para o IPCA 2025 do Focus chegou a atingir 5,68% em março. Diretores do Banco Central reforçaram ao longo do ano o desconforto com a desancoragem das expectativas de inflação, um fator importante para determinar quando o Comitê de Política Monetária (Copom) deve iniciar o processo de afrouxamento monetário.
Caso o IPCA de 2025 cumpra, de fato, o limite da meta, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, estaria dispensado de escrever mais uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre os motivos que levaram ao estouro da meta de inflação.
No início do ano, a projeção para o IPCA de 2025 do head de macroeconomia da Kínitro Capital, João Savignon, era uma das mais altas do mercado, de 6,5%, muito influenciada pela perspectiva de uma taxa de câmbio mais depreciada. Hoje, o economista aposta em uma alta de 4,46% para a inflação no ano, abaixo do teto da meta.
Além da dinâmica mais favorável da taxa de câmbio, a inflação de bens industriais e alimentos, na esteira da queda dos preços das commodities, foi o "grande diferencial" para a revisão na estimativa, segundo ele. A expectativa é de bandeira amarela na tarifa de energia elétrica em dezembro - se for verde, a estimativa deve sofrer um decréscimo de 10 pontos-base.
Para o economista Fabio Romão, da 4intelligence, o IPCA deve encerrar o ano em 4,52%, em um cenário que prevê bandeira tarifária amarela em dezembro. Segundo ele, a estimativa do ano perdeu força neste mês devido à redução do preço da gasolina pela Petrobras, mas já vinha dando sinais de moderação. A alimentação no domicílio, por exemplo, chegou a rodar em 7,5% em maio, e pode fechar em 4% em 2025.
"Tivemos uma boa safra, a gripe aviária momentaneamente também derrubou os preços das carnes, o câmbio ajudou bastante e o próprio tarifaço de Donald Trump ajudou a tirar força de algumas cotações", aponta.
A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, projeta hoje o IPCA de 2025 a 4,3%. "Mas poderia ir para 4,2% com a bandeira tarifária amarela vigente já a partir de novembro", afirma.
Na avaliação de Angelo, além do risco baixista para o IPCA com bandeira amarela em novembro, existe outro ponto que pode contribuir para a desaceleração da inflação: os bens industriais. Segundo ela, está em curso um repasse do câmbio apreciado de forma mais rápida nesses itens, o que ainda pode ter impacto na dinâmica de preços da Black Friday no fim do próximo mês.
"Temos uma coleta de eletroeletrônicos da Black Friday e vimos uma redução de preços já na semana passada. Mas não conseguimos explicar se esse movimento está relacionado ao câmbio ou à concorrência de produtos chineses que estão vindo para cá", analisa a estrategista.



